quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Queimar e fazer explodir: crônica da destruição de símbolos e edifícios húngaros no Transcarpatia.
Europeiska Pravda (Verdade Européia), 27.02.2018.
Dmitry Tyzhansky


Os acontecimentos desta noite em Uzhgorod, onde no centro um desconhecido colocou um explosivo, no peitoril da janela da Sociedade da Cultura Húngara do Transcarpatia, aparecerem no epicentro da atenção não só na Ukraina, mas também ganharam publicidade internacional.

E não só por causa da brutalidade da provocação, afinal a explosão causou incêndio, que destruiu todo o edifício por dentro. Mas também, porque a apenas três semanas atrás, o mesmo escritório húngaro já tentaram queimar, jogando pela janela o coquetel Molotov.

Infelizmente, no último ano e meio, no Transcarpatia uma série de eventos provocativos ocorreu.

Eles tinham uma meta comum: criar discórdia na região.

E não se trata apenas da recente escalada das relações entre Kyiv e Budapeste após a adoção da lei sobre educação. Tudo começou antes.

Há mais de um ano, foram realizadas mesas redondas duvidosas no Transcarpatia, apareciam estelas provocativas, e documentos falsos sobre autonomia circulavam constantemente. Antes da erupção do conflito, muitos esforços foram feitos - vamos lembrar o épico com as bandeiras ("Quem permitiu e quem pegou bandeiras húngaras dos conselhos locais no Transcarpatia").

Parece que alguém trabalha sistematicamente na transformação da região mais ocidental da Ukraina em uma região de instabilidade, criando uma atmosfera de conflito numa base étnica. Assim como aconteceu por muitos anos no Donbas e Crimeia, quando Rússia preparava o terreno para sua agressão.

Nós reunimos informações-chave no Transcarpatia nos últimos cinco anos. Este artigo ilustra claramente, que o ataque que ocorreu na noite passada em Uzhgorod - é o próximo link na cadeia de eventos.

2013: início da experiência de incêndios criminosos.

Qualquer pessoa que não conheça muito bem as cidades de Transcarpatia, pode, erroneamente decidir, que a foto abaixo é foto dos eventos de hoje.

Mas não é. Em julho de 2013 já queimava o escritório da Sociedade da Cultura Húngara de Transcarpatia, mas não em Uzhgorod,  foi em Berehovo.














Observamos, que então - como hoje - puseram fogo no prédio à noite, quando não havia ninguém no escritório. Foi relatado que, através da janela jogaram um tijolo, e depois inundaram dentro uma mistura inflamável e incendiaram.

Os culpados pelo ataque não foram encontrados.

E esta não foi a primeira experiência de incêndio criminoso aos húngaros transcarpáticos. 

Ataque ao poeta.

No mesmo ano de 2013, em abril, queimava o monumento a Shandor Petefi na praça Ferens Rakotsi II - isto é, no centro da cidade. Este foi o propósito dos incendiadores, vandalismo ou provocações - certamente não se sabe.

Vale ressaltar, que este monumento, sofria ataques repetidamente: quebravam sua mão no início de 1990 (o atacante foi encontrado e punido), cobriam com tinta preta em 2007 (então o culpado não foi encontrado).
















Um monumento semelhante a Shandor Petofi em Uzhgorod também foi danificado, e não somente uma vez: dele, já por quatro vezes arrancavam a espada, últimas vezes - em 2016, 2015 e 2011 e em março de 2009 banharam com tinta branca. Uma vez o atacante foi detido, era um pensionista de Dnipropetrovsk que, temporariamente morava em Uzhgorod e, segundo ele, cortou o sabre para vender como sucata.

Talvez, o episódio como o sabre, fosse sincero. Mas, em outros casos é difícil explicar que a lógica dos atacantes é algo diferente do desejo de "inflamar a região". O poeta e revolucionário Petofi - um dos húngaros mais proeminentes do século XIX. Ao mesmo tempo, ele não é uma figura controversa, na Ukraina ele não tem e, em princípio, não pode haver reivindicações, mesmo de políticos mais radicais.

Antes e depois de 2014: golpes na travessia.

Em março de 2014, no auge dos trágicos acontecimentos na Crimeia e início da guerra hibrida no leste da Ukraina, em Transcarpatia queimaram o memorial na travessia Veretsky, dedicado a 1100 anos da chegada dos húngaros à Bacia dos Cárpatos.

Até existe um vídeo da provocação gravado pela câmera de vigilância.

A câmera lá, numa passagem deserta, não foi acidental: desde que o monumento foi erguido em 2008, ele constantemente é um objeto de vandalismo. Já tentaram queimá-lo em 2011 e, nesse caso, suspeitaram de três "libertários" transcarpatianos. Em 2012 pintaram o monumento com as inscrições "Morte aos húngaros", "Aqui Ukraina."

Passaram-se três anos - e Travessia Veretsky novamente apareceu nas notícias.

Em outubro de 2017, o ministro do Interior Arsen Avakov informou sobre a prisão de um grupo de pessoas que planejavam destruir o mesmo monumento húngaro, e mais seriamente que na última vez. Agora tentaram explodi-lo.

Os detidos-residentes da região de Cherkassy, que, segundo a segurança, por dinheiro, preparavam um ataque terrorista no Transcarpatia. Deles removeram as armas, um dispositivo explosivo especialmente preparado, com um cilindro de gás em anexo (para detonação mais poderosa) e granadas RGD-5.

O que pode ser dito aqui, pode-se falar sobre a estimulação sistêmica da hostilidade nas relações da Ukraina com outros países. Para isto, foram estes homens que dispararam contra o consulado da Polônia em Lutsk, acrescentando problemas entre Kyiv e Varsóvia. E antes disso - eles lançaram uma granada na embaixada dos EUA, denegriram o túmulo do rabino Nakhman em Uman, deixaram inscrições anti-semitas na sinagoga em Chernivtsi, , outros.


















Os eventos atuais num contexto difícil: devido a contradições em torno da lei educacional, a confiança entre Kyiv e Budapeste caiu para o nível mais baixo. E agora, forças externas (e sobre isto podemos falar com certeza!) começaram despejar óleo no fogo do conflito.

Desde o início do ano (ou, mais precisamente, durante um mês), foram realizados dois ataques ao escritório sindical húngaro em Uzhgorod: no dia 4 de fevereiro, um coquetel Molotov foi jogado em um prédio à beira mar, e no dia 27 de fevereiro - colocaram explosivos.

Quanto ao primeiro ataque, os serviços de inteligência conseguiram estabelecer os suspeitos. Embora eles tenham deixado imediatamente o território da Ukraina, em poucos dias eles foram detidos pelos serviços especiais poloneses.

O único consolo - é que este assalto causou uma condenação inequívoca na Ukraina.

Em todas as declarações há poucas insinuações de que o mandante do crime - não está na Ukraina.

Isto ressoou do ministro Pavlo Klimkin, e do embaixador da Ukraina na Hungria Liubov Nepop, e dos funcionários, e dos deputados... E do presidente da ODA (Administração Regional do Estado) Gennady Moskal à sua maneira característica disse diretamente que a explosão do escritório dos húngaros em Uzhgorod - é trabalho do FSB.

Mas o mais importante, que essa opinião apoiam os próprios representantes da minoria húngara. Na terça-feira, o vice presidente do Conselho Regional de Transcarpatia e um dos líderes da Sociedade de Transcarpatia, Joseph Bortot declarou, inequivocamente: nem os cidadãos ukrainianos, nem os húngaros poderiam fazer isso.

Há motivos para esperar, que esta idéia seja ouvida também em Budapeste. Afinal, uma nova "guerra", se ela começar devido a essas provocações, não beneficiará  nenhuma das partes. E o mais importante: certamente não ajudará os ukrainianos húngaros do Transcarpatia.

Tradução: O. Kowaltschuk

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