domingo, 27 de agosto de 2017

Indiferença à Ukraina
Expresso. tv , 24 de agosto, 2017
 Vitali Portnikov

Quando você pensa sobre independência, não faça a si, por favor, perguntas sobre o salário que você recebe, se você aprova o governo e se a luta contra corrupção é eficaz.

Na véspera do Dia da Independência, muitos dos meus compatriotas geralmente discutem problemas que não estão relacionados à independência. Realizar o desfile militar ou não realizar, aprovar o presidente ou não muito, vive-se bem ou não, emigrar ou ficar.

À própria independência, todas estas questões não tem nada a ver. Quando se trata de proclamar a independência, é preciso fazer uma pergunta simples: a independência - ela é de quem?

No caso ukrainiano, a resposta a esta questão é compreensível. A independência ukrainiana - é a independência da Rússia. Assim, em diferentes períodos históricos, as terras ukrainianas pertenciam à composição de diferentes estados. Mas, em 1917, os fundadores da República Popular da Ukraina, e em 1991 os deputados da Verkhovna Rada (Parlamento) da República Socialista Soviética da Ukraina proclamaram a independência, justamente da Rússia.

A Metrópole poderia ter diversos nomes - Império Russo ou União Soviética - mas sua essência, devido a isto não mudava. E seus esforços também eram inalterados: a transformação dos ukrainianos em "pequenos russos", parte do povo "russo" até 1917 e a transformação dos ukrainianos em "pessoas soviéticas", falantes do russo e devotados a Moscou, depois.

Quando você pensa sobre independência, não faça perguntas a si, por favor, sobre o salário que você recebe, se você aprova o governo, e se a luta contra a corrupção é eficaz. Estas perguntas, fazem a si as pessoas, em todos os países do mundo, nos desenvolvidos, e não muito. Mas, de modo algum, em todos os países do mundo,conserva-se a mentalidade colonial de uma grande parte da população.

Não em todos os países do mundo as pessoas, demonstrativamente, se isolam do estado. Não em todos os países do mundo, a Pátria é percebida unicamente como um alimentador ou ferramenta de distribuição de benefícios sociais. Eu não afirmo que este é o caso apenas da Ukraina. Eu afirmo, que isto acontece em todos os países, que não superaram seu passado colonial. E é especialmente difícil para aquelas pessoas que nem sequer entendem, que viveram - na colônia. Que viveram - sob ocupação.

Quando você pensa sobre a independência, é melhor se perguntar, em que idioma você fala, e em que idioma falarão seus filhos e netos. Melhor pensar que livros você lê, quais filmes você assiste, quais datas históricas são importantes para você, e é importante à qual igreja você vai. (Esta questão o levará ao fato de que uma grande parte dos ukrainianos pertence à Igreja Ortodoxa do Patriarcado de Moscou, sendo que também existe a Igreja Ortodoxa do Patriarcado de Kyiv. Estão surgindo desentendimentos entre parte dos fiéis que seguem a Igreja do Patriarcado de Moscou e a Igreja do Patriarcado de Kyiv. Ultimamente a Cúpula da Igreja do Patriarcado de Moscou faz de tudo para não perder fiéis. Vou incluir as próximas publicações sobre este assunto, quando elas aparecerem -OK). Simplificando - diga honestamente a si próprio - a qual Deus você reza. E, se você continua a rezar para um estranho - talvez daí todos os seus problemas, e nossos também.

Quando a independência foi proclamada, a maioria dos habitantes da antiga USSR receberam a decisão do parlamento e, na verdade, votaram no referendo como num brinquedo infantil. Bem, vivemos na União Soviética, e agora viveremos na CEI (Comunidade dos Estados Independentes (C. dos E.I.  é uma organização supranacional envolvendo 11 países repúblicas que pertenciam à antiga União Soviética fundada em 8 de dezembro de 1991). Mas nossos produtos e mercadorias permanecerão, o que significa, que nós vamos viver melhor.

Quando ficou claro que, sem esforços e mudanças reais não há vida melhor, novamente lembraram sobre o "irmão maior" e votaram em Leonid Kuchma, que prometeu a renovação de "laços históricos". Muitos, até agora, percebem esse momento como fruição daquilo, que ainda restou da União Soviética como uma verdadeira era de ouro ukrainiana.

Nesses anos, a mentalidade colonial dos antigos cidadãos soviéticos deu lugar a pós-coloniais "truques", "multi-vetores", tentativas de enganar Moscou, Berlim e Washington - para sozinhos  não fazer nada.

Acreditava-se, que a data da ruptura final entre Kyiv e Moscou foi Maidan de 2004 - mas já em alguns anos a maioria dos eleitores votou em Viktor Yanukovych e Partido das Regiões. Foi necessário esperar a próxima ruptura final - Maidan de 2013-2014.

Mas, eu gostaria de perguntar ao leitores - se Putin não perdesse o juízo, não se apoderasse da Criméia, não iniciasse a guerra no Donbas - será que hoje nós não nos encontraríamos diante da perspectiva de um novo triunfo das forças pró-russas? E, será que nós não estaremos diante de tal perspectiva já amanhã - se apenas em Moscou decidirem, que já é hora de deixar nossas terras e, novamente  nos  oferecerem "abraços-irmãos"?

Afinal, na verdade, nós nos tornamos Ukraina apenas porque, nos defendemos. Mas nós devemos nos tornar Ukraina porque este é sincero desejo de todos os cidadãos ukrainianos. Isso não é o mesmo - da desesperança ou pela vontade.

E, os resultados dos processos também serão diferentes - simplesmente porque, o processo de transformação da Ukraina, para molestar Rússia, pode dirigir-se para outro lado. 

Nós temos tempo para realizar reformas estruturais, para combate à corrupção, para integração européia. Muitos países com economia igual a nossa, resolviam seus problemas durante décadas, e Ukraina não será exceção. Se o sentimento populista levar às alturas, não será  excluída a "latino-americana" andança em círculo.

A mim tudo isso não assusta. Nem todos os países conseguem êxito imediato. Se a prosperidade da Ukraina não construírem os filhos, mas os netos dos atuais ukrainianos - isto já será uma grande conquista após séculos de escravidão e apatridia. 

Ma em que, realmente, não temos tampo - é em aceitarmos a escravidão. Somos escravos de Moscou. Maidan 2013-2014 e agressão russa deram a Ukraina uma oportunidade histórica. A chance de nos tornarmos nós mesmos. Compreender o quão profundamente enraizou-se o legado colonial. Quão perigosa é a mentalidade escrava para o futuro do país.

Tradução: O. Kowaltschuk

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