terça-feira, 23 de agosto de 2016

Com guerra e descomunização Ukraina conquistou genuína independência.
Radio Svoboda (Rádio Liberdade), 12.08.2016
Rosteslav Khotyn

Exercícios militares perto de Mariupol. 09 de agosto de 2016.
Frequentemente você pode ouvir - mesmo depois de um quarto de século da independência, se referem a Ukraina como "ex-república soviética". Talvez isto teve base até recentemente, mas a Revolução da Dignidade, guerra para defesa do estado no leste da Ukraina e o processo da descomunização "cortaram o cordão umbilical", que ligava Ukraina com o passado soviético, e drasticamente reforçaram a Independência do Estado.

Em 1991, quando em 24 de agosto foi declarado o Ato de Independência da Ukraina, em círculos políticos houve discussões, se era válida a realização de um referendo, se podia-se dispensá-lo, porque a decisão do Parlamento era suficiente... No final, o referendo foi realizado em 1 de dezembro de 1991, e 90,32% dos que vieram às urnas, confirmaram o Ato sobre a independência.

Desde então, no entanto, às vezes, ouviam-se acusações, que, supostamente, os ukrainianos não lutaram muito pela independência, e alegavam que o resultado foi em consequência de um golpe fracassado em Moscou, e Kyiv apenas aproveitou, com sucesso, uma oportunidade política.

Mas a Revolução da Dignidade de 2014, no leste da Ukraina, bem como o processo da descomunização, de acordo com as pessoas envolvidas diretamente neles, hoje confirmaram Ukraina como um estado verdadeiramente independente.

"Se é a atual guerra, guerra pela Independência? Sim!
Mykola Tykhonov

"Se é a atual guerra, é guerra pela Independência? Sim, eu assim considero! Sabe, nós, com muita facilidade obtivemos a Independência há 25 anos. Na verdade, o povo ukrainiano não lutou pela Independência, ela "caiu" sobre nós, porque assim se formaram as circunstâncias políticas gerais: "espalharam-se" todas as nações da URSS em suas fronteiras de repúblicas administrativas. Rússia nunca reconheceu isto. Lástima apenas, que nós, ukrainianos, não nos preparamos para esta guerra, mas, ela era inevitável", - declarou em entrevista a Rádio Svoboda Mykola Tykhonov (chamado "Baryn"), lutador do batalhão voluntário "Carpathian Sich", protetor do aeroporto de Donetsk.

Mykola Tykhonov
Agora eu espero, que nós suportaremos esta guerra, e, de fato, temos suportado, porque não permitimos ofensiva relâmpago da Rússia em todo o sul, em todo Donbas, onde eles queriam fazer "Novarússia". Exatamente esta guerra, a ela nossos historiadores darão adequada definição, - isto é guerra pela Independência da Ukraina, no século 21" - acrescenta Tykhonov

Sobre a psicológica, e de fato, não apenas jurídica saída do assim chamado "espaço pós-soviético" fala o combatente contratado da Guarda Nacional da Ukraina Yuriy Kupriyenko.

"Agora nós saímos do espaço soviético e neste momento estamos guerreando pela Independência da Ukraina. A situação é tal, que somos obrigados a lutar pela Independência da Ukraina. A maioria da população da Ukraina, esta agressão russa uniu, e nós lutamos contra esta agressão", - diz Kupriyenko a Rádio Svoboda. 

Ukraina agora é muito unida - e justamente uniu-se nesta "guerra hibrida". Ukraina uniu-se, e nosso exército ukrainiano formulou-se rapidamente", constata o guarda nacional.

Mudança de auto identidade.

Após a Revolução de identidade Ukraina começou um processo ativo de descomunização. Embora no início isto antes era um espontâneo "leninopad" (derrubada das estátuas de Lenin - OK), mas depois isto foi consolidado no pacote das leis de descomunização, aprovado em abril de 2015.

Como observou em uma entrevista a Rádio Svoboda o historiador Sergei Ryabenko do Instituto da Memória Nacional, a maioria dos países da Europa Central e Oriental experimentaram processos semelhantes, e isto aconteceu logo após a queda dos regimes comunistas, no final de 1980 - início de 1990.

Na Ukraina, logo após a independência, ou um pouco antes, o processo de descomunização vinha de baixo e principalmente na Ukraina Ocidental e em Kyiv. Hoje, isto abarcou todo o país e foram renomeados cerca de 800 pontos habitados, milhares de ruas, praças, etc.

"A importância do processo da descomunização não é apenas a mudança de nomes de ruas ou desmantelamento de monumentos e figuras do regime soviético. O objetivo da descomunização é a condenação dos crimes ocorridos durante os regimes totalitários soviético e nazista. Para que estes crimes no futuro nunca mais se repitam", - diz o historiador Ryabenko.

"Um segundo objetivo importante deste processo é mudar a consciência dos cidadãos da Ukraina. Para, primeiro, com este criminoso regime totalitário que existiu, não procurar justificação. E também para que os cidadãos da Ukraina, finalmente, percebam, o que este regime foi na história, e que a repetição de tal regime - e, especialmente seus métodos de gestão da sociedade - nas condições atuais de um Estado moderno é impossível e inaceitável", - acrescentou ele.

De acordo com Ryabenko, processos que começaram durante a Revolução da Dignidade, como também a agressão da Rússia contra Ukraina deram suficientes e sérios impulsos para que, a sociedade ukrainiana e os cidadãos se reconhecessem  como componentes de uma única nação ukrainiana - uma nação política.

"E para que eles comecem valorizar que nós temos o nosso Estado independente. E que os cidadãos podem, até certo ponto influenciar em como será este país, se eles determinarem isto como sua meta", - explica o representante do Instituto da Memória Nacional.

Saída do espaço pós-soviético.

Após um quarto de século do colapso da União Soviética e conquista da Independência pela Ukraina, já raramente - embora ainda acontece - a definem como "antiga república soviética". No entanto, Ukraina cortou o cordão umbilical, que a unia com o passado soviético, com guerra e decomunização.

"Esta guerra, em minha opinião, leva-nos para fora daquele nevoeiro, cortina histórica, daquela hipocrisia ideológica, na qual Ukraina permaneceu quase 70 anos - até mais - na composição do Império Russo. E justamente esta guerra necessitava dos ukrainianos a descoberta de seus heróis e a renovação de sua história, a qual daria forças para lutar e resistir ao tradicional esforço da Rússia em nos subjugar, fazer-nos escravos", - disse Mykola Tykhonov.

"Porque nós temos uma admirável história, apesar de nos pretenderem mostrar, até certo ponto, que ela é trágica, que a história da Ukraina - é história de derrotas. Nada parecido! Nós temos muitos exemplos históricos de nossas vitórias. É exatamente esta história de nós escondia, a história russa. Se nós queremos sobreviver, nós indispensavelmente devemos nos tornar independentes em termos de consciência de nossa própria história e nossos próprios heróis", - acrescentou o combatente da "Carpathian Sich".

Com ele concorda o historiador Sergey Ryabenko, considerando que Ukraina assumiu uma grave e irreversível ruptura com o passado soviético.

"Em geral, o termo "espaço pós-soviético" e até mesmo o termo "Território da Comunidade de Estados Independentes", com o qual até recentemente delineavam o território da Ukraina, - eis que com esta agressão da Rússia contra Ukraina, a anexação da Crimeia e, de fato o desejo de assalto à ordem mundial, eles borraram quaisquer tentativas de criar quaisquer novos processos de integração no espaço pós soviético", diz Ryabenko.

A maioria dos cidadãos da Ukraina já não se vê partícipe nos processos de integração com a Rússia no espaço pós soviético, esta idéia perdeu sua popularidade e realmente rola para as margens, - explica o historiador. - Eu diria, que Ukraina já começa se identificar mais com os países da Europa Oriental, com países bálticos, do que com países - nomearemos assim - "espaço clássico pós-soviético".

Tradução: O. Kowaltschuk

Nenhum comentário:

Postar um comentário